CARACTERÍSTICAS BIOPSICOSSOCIAIS x EXPRESSÃO GRÁFICA

O QUE DESCREVE A GRAFOANÁLISE

O objetivo da análise grafológica é descreveras características biopsicossociais de um indivíduo ou grupo de pessoas de diferentes culturas e épocas. É um estudo que consiste em observar, medir, analisar, classificar e interpretar de forma exigente, minuciosa e rigorosa, as manifestações gráficas presentes em uma escrita à mão durante a atuação e dinâmica do trajeto que a caneta realiza.

características biopsicossociais
Uma escrita à mão durante a atuação e dinâmica do trajeto que a caneta realiza

Entendo sobre a Expressão Gráfica

A expressão gráfica é o resultado de dois processos psicomotores:

1- Movimento imitador voluntário e consciente: quando aprendemos a escrever copiamos um modelo caligráfico específico. É um movimento de realização consciente chamado “imagem condutora formal”.

2- Movimento modificador, involuntário e inconsciente: desde as primeiras tentativas realizadas pela criança quando começa a aprender a escrever, observa-se que cada uma dessas crianças estampa em seus traços gráficos determinadas modificações pessoais, verdadeiros gestos inconscientes da expressão projetiva chamada “imagem condutora individual”.

A variedade de escritas é tão grande quanto a diversidade de fisionomias e caráter. Cada criança é única e assim é a escrita: uma atividade individual expressiva que segue toda a evolução do caráter da pessoa.

Claude-Monet
Escrita de Claude Monet

Análise de escrita infantil e escrita tipográfica

Dúvida frequente que percebo nos participantes dos cursos é sobre a possibilidade de análise grafológica da escrita infantil e das pessoas que escrevem com letra tipográfica, também chamada de bastão, forma ou imprensa.

Tanto a escrita infantil quanto a tipográfica são passíveis de análise.

Charles Chaplin
Escrita de Charles Chaplin

Escrita infantil

Para analisar a escrita infantil é necessário que o grafólogo faça o curso de especialização nessa área. Temos estudos realizados por Alfred Binet e Julian de Ajuriaguerra sobre o tema.

Alfred Binet (Nice, 8 de julho de 1857 – Paris, 18 de outubro de 1911) foi um pedagogo, grafólogo e psicólogo francês. Teve contribuição essencial na psicometria e na psicologia com a colaboração de Theodore Simon, com o teste de previsão de desempenho escolar.

Julian de Ajuriaguerra (Bilbao, 7 de janeiro de 1911 –Villefranque – Pirineus Atlânticos, 23 de maio de 1993) neuropsiquiatria e psicanalista espanhol, naturalizado francês, atualizou a escala evolutiva de amadurecimento psicomotor organizada por Helene de Gobineau. Ao todo foram pesquisadas 1230 escritas.

Entre muitos livros que Ajuriaguerra escreveu, destaco:

  • Manuel de psychiatrie de l’enfant, Masson, 1980
  • L’Écriture de l’enfant, tomo 1 y 2 , Delachaux & Niestle, 1989
  • Le Cortex Cérébral. Étude Neuro-Psycho-Pathologique (avec H. Hécaen), Masson et Cie. París, 1960

Então como podemos observar, a escrita de crianças é analisada desde a época de Alfred Binet.

Escrita Tipográfica

No caso da escrita tipográfica o que se dizia pelos idos 1950/60 é que a pessoa que escrevia assim tentava esconder algo. Na antiguidade só as pessoas com excelente posição social sabiam escrever; a escrita estava mais limitada ao âmbito dos templos, túmulos e registros de façanhas reais e o bonito eram as letras rebuscadas por ser um privilégio que poucos desfrutavam; logo, só as cartas anônimas eram escritas com letra de imprensa. Mas tudo evolui e a escrita cursiva desde os anos setenta começou a dar lugar a escrita tipográfica. E assim foi acontecendo com muitas escolas municipais e estaduais. Já nas escolas privadas, a maioria continua até hoje ensinando a escrita cursiva, que tem suas inúmeras vantagens.

A letra de imprensa deixou de ser um privilégio dos adolescentes, estando atualmente presente na escrita de adultos cada dia com mais frequência. Muitas vezes também é adquirida devido a profissão. Enquanto a escrita cursiva se move de forma progressiva, avançando no movimento grafoescritural, a escrita tipográfica freia o movimento.

A análise da escrita com letra de imprensa é realizada sob os aspectos da ordem (margens), legibilidade, 4 larguras ( 3L + espaço entre linhas), tamanho, inclinação, direção, velocidade, estética, pressão, tensão, forma e até mesmo a continuidade, porque encontro muitas escritas com letra de imprensa com belas ligações.

Os motivos de escrever com letra de imprensa são diversos. Vão desde o aprendizado em letra tipográfica até a existência de problemas afetivos e desejos de controlar a agressividade. O que percebemos também na letra de imprensa é que o sentimento em relação ao outro, ao social, pode não fluir com espontaneidade e há certa preservação, proteção de si, mas nada de anormal em se tratando de uma sociedade que cada dia mais está com a vida e as relações sociais “virtualizadas”. Quem escreve em letra de imprensa atualmente, busca pela legibilidade, por um sentido de estética; é signo de boa memoria visual, pensamento crítico e analítico.

Mas devemos sempre lembrar que acima de tudo, naquela folha de papel, existe um ser humano e errar na análise grafológica é colocar a vida dessa pessoa em julgamentos e interpretações erradas que irão lhe prejudicar.

VAMOS ENTENDER DAS FASES CALIGRÁFICAS

1) FASE PRE-CALIGRÁFICA.

Esta fase acontece entre os 5/6 anos e se estende até os 8/9 anos, tendo mais ou menos 4 anos de duração. É o período em que a criança é incapaz de superar as exigências das formas caligráficas. Esforça-se ao escrever para atingir a regularidade, mas não consegue por deficiência motora.

A escrita apresenta traços quebrados, interrompidos, trêmulos, arqueados ou retocados; a dimensão (tamanho) e a inclinação da letra são mal controladas, não possuem um tamanho uniforme e muitas vezes não estão ligadas entre si para formar as palavras; os traços curvos apresentam-se deformados em forma de bolhas, angulosos, mal fechados; as uniões são inábeis, desajeitadas; dificuldades para escrever em linha reta apresentando a direção da linha irregular, serpenteada, quebrada, ascendente ou descendente; não há um padrão de uso das margens que podem aparecer desordenadas, excessivas, irregulares ou ausentes.

2) FASE CALIGRÁFICA INFANTIL.

Esta fase desenvolve-se ao redor dos 7 até 12 anos. A escrita torna-se mais rápida e regular. É caracterizada por um relativo domínio do gesto gráfico. A criança adquire regularidade na forma e na expressão, isto é, a escrita conseguiu atingir um nível de maturidade e de equilíbrio, começam a aparecer os primeiros traços gráficos pessoais, mas ainda imita modelos. As linhas são retas e espaçadas regularmente, as margens distribuídas corretamente. Porém é muito raro que a escrita continue se desenvolvendo dessa forma devido a etapa da adolescência. A partir dos 12 anos a evolução continua, mas as exigências mudam, observando-se transformações nas características psicológicas do escritor que até o momento correspondiam com a fase da infância.

3) FASE PÓS – CALIGRÁFICA.

É a fase entre os 12/13 e 16/18 anos. A chegada da adolescência, a estrutura da personalidade, as exigências de velocidade para traduzir um pensamento ou a economia do gesto gráfico são alguns dos fatores que influem no processo questionador da personalidade adolescente. A pessoa procura uma maneira mais rápida de unir as letras se despojando de adornos e detalhes inúteis, o que faz com que a escrita tome uma característica pessoal e individual.

A maturidade grafoescritural se dará entre os 18 e 20 anos. Atualmente, me arrisco a dizer que essa maturidade tarda mais um pouco, até uns 23 anos.

Estudando o Espaço Gráfico

O que representa a folha de papel em que a pessoa vai escrever o texto?

A folha em branco – ESPAÇO – representa simbolicamente o mundo do indivíduo, o entorno vital atual onde ele vai exteriorizar de forma simbólica como se posiciona e se sente, vai mostrar a forma como caminha no seu mundo.

O TRAÇO é a expressão mínima da onda gráfica, é algo muito inconsciente e nos revela a energia ativa e passiva da personalidade. É o testemunho da energia do indivíduo e nos mostra a maneira como a pessoa gera os seus recursos. Ele atua como um fio condutor do movimento vital de quem escreve.

O traço dá origem ao TRAÇADO por meio do impulso da pressão, da tensão e movimento vital. Lavater y Magnat fazem a distinção entre eles dizendo que o traço é o apoio, é o suporte para o traçado que é o corpo da letra.

A textura e propriedades do traço são impossíveis de serem imitados, adulterados, ou falsificados, portanto, essa observação é primordial, tanto para a grafologia como para a perícia grafotécnica.

A avaliação do traço se realiza por meio de instrumentos que aumentam os seguintes pontos do grafismo: ponto de arranque ou de arremate dos signos, letras e palavras, contraste entre plenos e perfis, eixos periféricos ou em qualquer lugar das zonas topográficas da escrita.

A FORMA é o mais consciente porque é o resultado do aprendizado do modelo caligráfico escolar. Nos mostra a sua capacidade de evolução. O MOVIMENTO vai revelar as motivações do indivíduo, sua atividade e sua capacidade de inovação.

Sobre movimento, se procurarmos nos dicionários, vamos encontrar: é a ação e ou efeito de mover (fazer com que um corpo deixe o lugar que ocupava e passar a ocupar outro); deslocamento que um corpo faz de um lugar para outro.

Na grafologia o movimento se organiza no espaço e se constrói na forma. É o motor da pressão, da rapidez, da fluidez e tensão que gera o traço. Movimento e energia estão na base do traço.

O movimento representa um comportamento expressivo como resultado da exteriorização das energias vitais e psíquicas de autorrealização, da reação de estímulos, da intensidade e da motivação que aciona o sentimento, das predisposições vitais inatas e inconscientes, da expressão profunda e biológica do Eu, da resistência as forças exteriores e muito mais.

Jung fig
Jung fig

Diante do escrito acima e muita mais, é que sempre faço a seguinte observação: Na grafoanálise/grafologia as manifestações gráficas presentes não podem ser interpretadas de forma isolada, sendo necessário observar, medir, analisar, classificar e interpretar de forma exigente, minuciosa, rigorosa e estabelecer uma interação entre elas.

Texto: Elisabeth Romar em 13 de março de 2021.

Elisabeth Romar – Análises grafológicas para empresas – Seleção e Desenvolvimento Pessoal – , Orientação Vocacional/Profissional, Avaliação por competências, Previsão de Risco.

Se você tem interesse em aprender GRAFOLOGIA,
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Bibliografia:

L’Écriture de l’enfant, volumes 1 e 2 , Julian de Ajuriaguerra – Edit. Delachaux & Niestle, 1989
Grafología Teórica y Metodológica – Jaime Tutusaus – Ed. Rere el Traç