Você usa o celular durante as refeições que faz com o seu filho?

A mensagem e o e-mail podem esperar meia hora. No momento de comer, a atenção deve ser dedicada exclusivamente às crianças.

 Por Luiza Tenente em  http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento

 

Num restaurante japonês na zona oeste de São Paulo, mãe e filha
sentam-se à mesa. A mãe conversa pelo celular. A filha, de não mais que 5
anos, espera pacientemente para olhar o cardápio. Quinze minutos se
passam e a ligação telefônica não se encerra. A mulher pede, enquanto
fala ao telefone, dois rodízios – a criança, finalmente, tem com o que
se entreter. Meia hora se passa e nada acontece. Entre um hashi e outro,
a garotinha finalmente desiste: supera sua timidez e começa a vagar
pelo restaurante buscando companhia para conversar. Claro, sem se
esquecer de voltar à mesa esporadicamente para pegar um sushi. E a mãe?
Continua no celular até pagar a conta, até sair do restaurante, até
chegar ao carro, até…

Essa situação, acredite, não é uma ficção. Ela foi presenciada
recentemente por uma repórter de CRESCER. E você já deve ter visto algo
parecido também. Esse hábito, cada vez mais corriqueiro nos dias de
hoje, motivou, inclusive, um estudo publicado no periódico científico Pediatrics
neste mês. Os cientistas da Universidade de Boston (EUA) observaram o
comportamento de 55 adultos que acompanhavam seus filhos em restaurantes
de fast food, na zona metropolitana da cidade. Desse grupo, 40 deles
usaram o celular durante a refeição e demonstraram focar atenção somente
no aparelho. 

Os pesquisadores optaram por não interagir com os
frequentadores do restaurante já que as famílias poderiam se sentir
intimidadas e não apresentariam o comportamento natural. Dentre as mesas
analisadas, as crianças tinham de 0 a 10 anos – 54% delas em idade
escolar. Já que não houve abordagem direta, os cientistas estimaram a
data de nascimento de cada uma a partir da altura e do grau de
desenvolvimento dela.

Mas por que devemos evitar o uso do smartphone nesse momento? De acordo
com a psicóloga Rita Calegari, do Hospital São Camilo (SP), dar atenção às crianças é essencial para o crescimento infantil saudável.
Há quatro momentos no dia que especialmente requerem sua dedicação aos
filhos: durante a higiene (dar banho ou escovar os dentes),
brincadeiras, sono e… refeições. “A alimentação é a base do
desenvolvimento físico. 

Os pais não podem ser negligentes à mesa”,
explica a especialista. Ou seja: preocupar-se em oferecer um cardápio
saudável é tão importante quanto dar atenção às crianças. Vale lembrar
que o almoço ou o jantar não cumpre simplesmente a função de alimentar –
são também ocasiões para confraternizar e sociabilizar. Enquanto come,
seu filho contará como foi o dia na escola, por exemplo. E você pode
relatar a ele algo divertido que tenha ocorrido durante o expediente no
trabalho. Essa troca de histórias trará lembranças para o futuro. E
mais: com a construção dessa intimidade e confiança ficará mais fácil
você saber quando algo não estiver bem com ele também.

No estudo, a maior parte das crianças passou a se comportar mal diante
da atitude relapsa dos adultos. “Se elas estiverem acostumadas a
conversar e, de repente, os pais começam a usar o celular, farão de tudo
para chamar atenção. Pode ser um protesto atirando comida, por
exemplo”, explica Calegari. Já entre as que veem como padrão o fato de
os adultos usarem o celular à mesa, o comportamento passa a ser apático,
menos explorador. 

A ausência de diálogo não estimula a curiosidade
delas. Sem contar que desviar o olhar do seu filho, principalmente se
ele for pequeno, pode representar um risco à saúde dele, como de
engasgar ou  comer algo impróprio.
 É claro que, se estiver aguardando alguma ligação urgente, não haverá
problema em atendê-la – desde que seja uma exceção. Explique à criança o
que está acontecendo, peça licença e resolva o problema. Fora isso,
aproveite a própria tecnologia a seu favor. Em diversos aparelhos, você
tem a possibilidade de programar na tela de bloqueio de muitos aparelhos
para ver o remetente da mensagem e o início do texto, sem necessidade
de manusear o celular para descobrir o assunto dos comunicados.

De quebra, agindo assim vai ficar mais fácil seu filho entender que a
hora do almoço não é momento para ele brincar com os gadgets. Os
aparelhos podem ficar como alternativa para entretê-lo na espera da
consulta ao pediatra, dentista ou enquanto vocês aguardam o jantar
chegar em um restaurante. “A tecnologia pode fazer bem, se usada com bom
senso. Mas nada substitui a atenção”, reforça a psicóloga.

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